1. A Viagem Sem Volta
Trabalho.
Uma viagem de trabalho, mas não deixava de ser uma viagem.
Muito perigosa, talvez. Mas, minha melhor amiga e eu adoramos aventuras.
Estávamos ansiosas para irmos. Provavelmente não voltaríamos, mas não tínhamos medo da morte. Desde pequenas convivíamos com essa amiga da vida. Era impossível fugir dela.
A proposta da viagem estava em cima de minha mesa. Outra cópia estava em cima da mesa dela.
Ambas assinadas com nossa caligrafia elegante. As entregaríamos quando nosso chefe chegasse.
Nós não iríamos sozinhas, outras pessoas – malucas talvez, ou só loucas por aventuras como nós duas éramos – iriam também. No total: 80 pessoas.
Claro que o dinheiro também contava.
E este era farto.
Farto para quem voltasse.
Não tínhamos uma probabilidade boa de voltarmos, mas quem ia não tinha família e não deixaria ninguém.
Eu estava especialmente querendo ver os animais que lá se encontravam os animais que, talvez, nos matassem.
— Katrina?
Que susto. Era Brianna, minha melhor amiga desde meus nove anos.
— Oi. – respondi.
— Feliz Aniversário... – cantarolou ela.
Droga. Até eu havia me esquecido que hoje era meu aniversário de vinte e dois anos!
— Brigada. – fiz uma pausa – Logo, logo é o seu!
Ela estremeceu.
— Nem me diga. – depois ela deu um grande sorriso – Mas, quando for o meu aniversário comemoraremos no navio.
Eu ri e concordei.
— Pode ser o último aniversário que teremos.
Ela riu e deu um sorriso.
— Quem sabe...
— Bom dia, garotas.
Viramos para a maravilhosa face de meu chefe e, meu namorado, noivo, na verdade. Ele não era muito mais velho do que eu. Tinha apenas vinte cinco anos. Somente três anos a mais do que eu.
— Bom dia Felipe. – eu dei um sorriso e Brianna revirou os olhos.
— Aqui está o formulário da viagem totalmente preenchido. – Brianna o entregou e se despediu.
— Aqui está o meu.
Ele sorriu e me deu um beijo.
— Muito bem... Tem certeza que quer arriscar sua vida?
Revirei os olhos.
— Absoluta. E você tem certeza?
Felipe também iria conosco na viagem.
— Lógico. – ele deu outro de seus sorrisos e foi para sua sala.
Suspirei e olhei no relógio. Hora de nadar com os golfinhos.
Eu trabalhava como bióloga marinha. Tinha acabado de me formar junto com Brianna. Ela era veterinária.
Levantei-me de minha mesa e fui para o vestuário me trocar.
Pus a minha roupa especial de mergulho e sai.
Assim que cheguei ao local onde os golfinhos ficavam, mergulhei.
A água gelada me atingiu e me fez tremer. Mas, logo estava aquecida.
Tinha uma estranha conexão com a água.
Um golfinho veio por trás de mim e me espirrou mais água.
Sorri para ele e comecei meu trabalho.
***
No final do dia, não estava nem um pouco cansada. Eu não era o tipo de pessoa que se cansa rápido, podia ficar trabalhando o resto do dia e ainda assim estaria em perfeita forma.
— Vamos? – perguntou Brianna.
Assenti e fui dar um rápido beijo em Felipe.
— Te vejo em casa. – sussurrei em sua orelha e lhe passei a chave de minha casa.
Ele sorriu e me disse um “tchau” animado.
Sai de sua sala e segui para o estacionamento junto com Bri.
Fomos no meu conversível prata conversando sobre aquela maravilhosa viagem que, pode se tornar uma viagem sem volta.
***
Acordei abruptamente nua nos braços de Felipe, estava arfando.
Que pesadelo!
Respirei fundo e me controlei.
Devia ser por causa da viagem que o tivera.
Pelo que me lembrava do sonho, eu estava no triângulo das bermudas – onde seria a viagem – e Felipe se encontrava morto e ensanguentado em meus braços.
Virei-me para ver seu rosto com medo de que o pesadelo fosse real de alguma forma, mas não era. Seu rosto estava perfeito e belo, como sempre fora. Não tinha nem uma gota de sangue em parte alguma de seu corpo.
“Não foi nada” disse a mim mesma.
Eu devia estar somente impressionada por causa do lugar para onde nós iríamos viajar: O Triângulo das Bermudas, ou, o Triângulo do Diabo. Onde vários barcos afundaram, aviões caíram e onde vários desaparecimentos ocorreram.
Foi somente um sonho, repeti para mim e depois afundei nos braços nus de um Felipe totalmente adormecido.
Triângulo do Diabo... Estou indo pra ai.
Adormeci e novamente sonhei com pessoas mortas e ensanguentadas ao meu redor.
Mesmo dormindo eu sentia que essa seria uma viagem sem volta... Sem volta para pelo menos alguns de nós.
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