9. Garotos
Estava nervosa.
Quem era o menino que estava me esperando?
Mas essa era uma pergunta menos importante, a mais importante era: O que eu diria a Léo?
Olho no relógio, estava adiantada hoje, a primeira aula só começaria depois de vinte minutos.
Que droga! Logo hoje eu teria que ter chegado cedo? Sempre estava atrasada, mas hoje não, parecia que o destino queria que eu falasse tudo de uma vez para o Léo.
Olhei para a sala, ela estava praticamente vazia. Todos os meus amigos deveriam estar lá em baixo.
Parte de minha mente pensava que eu deveria sair correndo e outra parte pensava que eu deveria enfrentar o problema. Eu sabia qual era a melhor opção: correr! Ainda assim meus pés me levavam para frente.
Léo agora estava com os olhos estreitados, como se adivinhasse que eu queria sair correndo de lá, embora não fosse adiantar. Ele era muito rápido e me alcançaria rapidamente.
Eu parei.
Já estava em frente a minha carteira.
O menino que eu não conhecia sorriu e começou a falar.
— Oi, meu nome é... – mas, ele não termina, pois Léo o empurra e me puxa pelo braço.
— O que está fazendo? Me solta! – eu falo reclamando.
— Quero conversar com você, então só estou tentando fazer com que você não fuja! – ele responde calmamente.
— Tá me machucando! – eu tento puxar meu braço, mas ele não me larga.
— É muita falta de educação, eu estava conversando! – eu falo, já ficando com raiva, pronta pra chutá-lo se fosse necessário.
— Não to nem ai! Só não quero que você fuja antes de falar comigo, depois pode fazer o que quiser! – ele responde ainda calmo. Vamos ver se ele continuaria calmo quando eu o estapeasse.
— Léo, me solta! Se você não me soltar... Eu vou gritar! – ameaço.
— Pode até tentar...
Ele não terminou a frase, mas eu sabia a continuação: “mas não vai adiantar”.
— Olha, eu prometo que não vou fugir... Palavra de honra. – eu lhe digo e ele me solta.
Fico parada na frente dele, esperando ele começar o interrogatório.
— Por que fugiu de mim no MSN? – ele pergunta com as sobrancelhas arqueadas.
— Eu não fugi de você. – respondo calmamente. – eu fiquei offline.
— Não ficou não! Você me bloqueio.
— Não bloqueei não! – continuei insistindo, teimosa como era.
— Deixe de ser teimosa. – ele podia ler minha mente agora? Que ótimo.
— Tá tudo bem... Eu te bloqueei, mas eu fiz isso para não passar mais vergonha.
— E aquele show de pancadaria? Espero que a Coraline tenha se recuperado.
— Ah, com certeza ela se recuperou... Mas ela mereceu! Ela estava me enchendo.
— Te enchendo por quê?
— Porque... Ela gosta do você e queria que eu falasse isso, mas eu disse que não.
— Você com certeza é uma péssima mentirosa.
Realmente, eu era.
— Acredite se quiser...
— Não cola! Explique-me tudo direitinho.
— É só isso! Não tem nada o que explicar.
Ele apenas aperta os olhos e eu saio andando, não esperando que a sua mão novamente me segurasse pelo braço.
Garotos, nunca se dão por vencidos em quanto nós não admitimos que nós, meninas, gostamos deles. Mas eu não irei admitir.
Não tinha coragem, nunca fui muito corajosa.
— Eu não tenho mais nada pra falar... Então quer, por favor, me deixar em paz!
Ele largou o meu braço e eu fui para a sala. Podia sentir seu olhar me fuzilando, mas eu não me virei. Continuei andando, surpresa pelo menino desconhecido ter ficado me esperando em minha carteira.
— Desculpe, por ter te deixado falando sozinho. – eu falo para ele e, assim que olho em seus olhos castanhos eu o reconheço.
Era o menino que tinha entrado no começo do ano.
E eu nunca tinha me apresentado! Realmente esse ano eu estava péssima... Não prestava atenção em nada!
— Tudo bem! – ele me deu um sorriso. – Meu nome é Felipe. Entrei no começo do ano, mas não tivemos a chance de nos apresentarmos.
— É... – a palavra era descolada, mas não tinha pensado em nada melhor para se dizer.
O garoto aumentou seu sorriso, me deu um aceno e saiu pela porta.
Os olhos dele eram familiares...
— Kathe! Oi mana, tudo bem? – Duda me assustou.
— Oi mana, to... Ótima... E Você?
— To bem!
— Oi Kathe! – Manu disse, entrando na sala.
— Oi... Espera... – eu disse enquanto pegava os filmes que ela havia me emprestado. – Valeu.
— Gostou?
— Sim... Embora não tenha me dado medo.
— Ai Meu Deus! – ela revira os olhos e eu sorrio.
— O Léo parecia bem frustrado. – disse Duda a propósito de nada. – E quando eu perguntei por que ele estava assim ele me disse pra perguntar a você... Então eu estou perguntando... O que diabos aconteceu?
Com um suspiro eu começo a falar do que havia acontecido.
No fim Manu e Duda quase estavam rolando no chão de tanto rir.
— Realmente, é muito engraçado! – eu ironizei e revirei os olhos.
Elas só riram mais. Ficaram rindo até o sinal bater.
Depois de alguns minutos, Léo entrou na sala.
Seus olhos fitavam os meus.
Ele passou por mim e sentou-se em seu lugar.
Podia sentir seu olhar fuzilando minhas costas e isso me causava um arrepio na coluna.
— Bom dia! – a professora de português cumprimentou.
— Bom dia. – respondemos todos nós ao mesmo tempo, sem emoção alguma.
Virei meus olhos para a direita e encontrei os olhos de Felipe.
Sua expressão me assustou.
Ele parecia assustado e... Protetor.
Seu olhar passou de mim a Duda, que estava se divertindo com Ricardo, que se sentava a sua frente.
Novamente minha mente passou para Léo, que ainda estava me olhando.
Senti minhas bochechas corarem e me virei para olhá-lo. Assim que nosso olhar se cruzou ele sorriu e eu me virei para frente de novo.
Esses garotos...
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