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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

1. Um Dia Como Outro Qualquer
                                                                                                                                                                                
Acordei com o som do despertador, era uma segunda-feira, dia de escola.
Como em qualquer outro dia me levantei, escovei meus dentes, me arrumei e sai, sem tomar café da manhã, mesmo minha mãe dizendo que era a refeição mais importante do dia, isso era idiotice, não acredita em uma palavra sequer.
Hoje eu teria que ir a pé - pois meu carro estava na oficina - ou então eu teria que pegar carona com meu pai... Eu realmente preferia ir a pé, evitando constrangimento.
Pus meu celular para tocar na minha música preferida enquanto eu andava o curto caminho que me levaria para a escola.
Já havia avisado Sandra e Christina que eu não poderia ir buscá-las hoje por causa que meu carro havia pifado e agora se encontrava em uma oficina.
Depois de quinze minutos andando eu cheguei ao meu destino: minha escola.
O céu estava coberto pelas nuvens, ameaçando chover, como se isso fosse novidade em Chicago.
Logo, logo nevaria. E eu estava ansiosa para que isso acontecesse.
Adorava neve desde pequena, era uma das poucas coisas que me deixavam feliz.
 — Clare... Terra chamando Clare... – me chamou Christina, tirando-me de meus devaneios.
— Oi... Tô meio alienada hoje... E ai? – eu pergunto.
— Tô O.K. e você?
— Como sempre... – eu paro e dou de ombros. – Sandra já chegou?  - eu tento procurá-la.
— Não... Nem sinal dela...
— Hum...
— No que estava pensando antes de eu chegar? – sondou ela.
— Estava pensando na neve, em como ela me faz feliz. – eu respondo.
— Neve? Eca! Odeio neve! – diz ela com clara repugnância.
— Pois eu amo! Como vai com Josh? – eu pergunto, há tempos em que ela não falava de seu namorado.
— Terminamos. – ela respondeu sem um pingo de tristeza.
— Posso saber por quê?
— Não estávamos apaixonados... Na verdade eu já tenho até saído com outro carinha... Não disse nada porque nem Sandra nem você perguntaram, então eu fiquei na minha.
— Quem é o carinha? – eu pergunto, louca por uma fofoca.
— O Andrey. – ela responde dando de ombros.
— Sério? O Andrey? Pensei que ele era um esnobe que não dava a mínima para ninguém.
— Bem, parece que não é bem assim... Vou sair com ele neste sábado. Deseje-me sorte.
— Sorte! – eu digo cruzando os dedos.
— E o Matthew? Já rolo alguma coisa entre vocês dois. – ela pergunta animada, mas meu rosto não era um reflexo do dela.
— Nada! Nadinha de nada! Não rolo e nem acho que vá rolar!
— É só esperar um pouco e ele vai cair de joelhos, implorando para ser seu namorado. – ela me estimula a não desistir, mas eu apenas arqueio uma sobrancelha, sem dizer nada.
— Oi povo! Como vão? – Sandra pergunta quase sem fôlego.
— Tudo bem e você? – dizemos Christina e eu em uníssono.
— Tudo ótimo... Vocês não vão imaginar quem me convidou para sair! – ela faz uma pausa enquanto eu e Christina trocamos um olhar, provavelmente já sabemos da resposta. – Curtis!
Ela sorri, esperando que um sorriso nosso.
— Não vão dizer nada?
— Parabéns? – fala Christina.
— Tava na cara! – eu falo – Ele já demonstrava sinais que gostava de você ha muito tempo.
— Hum... – resmunga Sandra nem um pouco convencida.
O sinal bate, nos distraindo.
— Nos vemos na hora do almoço. – dissemos nós três em sincronia.
Corri sem nenhuma vontade para minha primeira aula, tudo que eu menos queria era ter aula de artes.
O professor ainda não havia chegado quando entrei na sala. Eu estava torcendo para que ele houvesse faltado.
Fui para o meu lugar ainda torcendo e fazendo figa, mas instantes depois de eu me sentar ele entrou pela porta - com a sua pasta que continha vários desenhos e atividades para nos dar – dando bom dia a nós.
Ninguém havia respondido, estavam todos conversando, todos menos eu.
Eu não era a menina mais simpática da escola, então tinha poucos amigos, na verdade os meus amigos resumiam-se em apenas quatro: Sandra, Christina, Maurício e Felipe.
Não conseguia prender minha atenção na aula, meus pensamentos voavam, criando ilusões e histórias para Matthew e para mim.
Mas, o professor conseguiu que eu prestasse atenção após trinta minutos passados de sua aula, ele nos deu um teste surpresa que valia metade da nossa nota.
Com certeza eu ia me dar mal nessa prova, eu não estudava diariamente, tinha outras coisas para fazer, como conversar com os meus amigos e escutar música, música no último volume, isso deixava minha mãe louca, mas eu não ligava.
Minha mãe... Meu Deus, como ela é chata! Não me deixa em paz, está sempre gritando! Eu comecei a ter raiva da minha família depois que meu irmão nasceu, minha mãe e meu pai só davam atenção a ele, ele era o centro da atenção, enquanto eu não era nada, simplesmente nada.
 O professor dava as instruções de como seria realizada a prova, hoje eu acho que ele estava de bom humor, pois nos deixou fazer o teste consultando no livro.
Bem, pelo menos eu ia tirar uma boa nota.
***
A caneta do professor corrigia as provas, agora estava corrigindo a minha prova e, eu esperava com ansiedade a minha nota. Não poderia ter ido mal, afinal foi com consulta.
Uns cinco minutos depois ele falou em voz alta a minha nota: 9,5.
Para mim estava ótimo, claro que eu podia ter tirado 10 se não estivesse com tanta preguiça.
O sinal bateu, anunciando o término da aula, algumas provas não haviam sido corrigidas então algumas pessoas esperaram um pouco mais para saber a nota.
Sai e fui direto para o refeitório, onde Christina, Maurício, Sandra e Felipe estavam me aguardando.
Como qualquer outro dia nós cinco ficamos batendo papo até o sinal tocar.
A minha próxima aula era de Química.
Minha matéria favorita.
Fui correndo pegar meus livros no meu armário e me deparei com Matthew, ele estava me esperando.
Seus olhos castanhos me fitavam, seu cabelo loiro e liso estava caindo em seu olho... Meu Deus... Ele é tão lindo!
— Oi, Clare... – ele me disse assim que cheguei à porta de meu armário.
— Oi...  – eu respondi meio sem graça.
— Desculpe eu te perguntar isso, mas... Você pode me dar algumas aulas de Química? Sabe, você é a melhor na matéria e eu estou indo muito mal... – ele fez uma careta.
Sorri, lógico que eu ia aceitar, pois ia estar com ele, mesmo sendo pra dar aulas.
— Claro...
— Valeu... Então te vejo depois da escola? Na minha casa?
Na casa dele...
— Arrã. – eu murmurei.
— Ótimo... Está aqui o endereço... – ele disse enquanto tirava uma caneta e um papel de sua mochila.
Ele arrancou a tampa da caneta com a boca e escreveu seu endereço no papel, entregando-o a mim depois.
Sua caligrafia era elegante.
Rue de Montolieu, Nº 364 – Canada
— Vou estar lá... Assim que o último sinal bater. – eu disse.
— Obrigado. – ele sorriu e foi embora.
Eu havia ganhado o dia...
— Senhorita Bouchard... O que está fazendo fora de sua aula. – perguntou o diretor Groom.
— Eu já estou indo diretor...
Não esperei sua resposta, apenas sai e fui correndo para minha aula.
O professor nada disse quando eu passei pela porta e eu segui para meu lugar.
Matthew estava lá... Fazendo um experimentou, ou melhor, tentando fazer.
Daqui mais três aulas eu estaria com ele...
Céus... Três aulas?! Parecia uma eternidade.
Me lembro quando pensei que este era um dia como outro qualquer, mas ele não é... É um dia completamente diferente dos outros, pois eu iria me encontrar com o gato dos meus sonhos.
***
Depois de mais três aulas fui, finalmente, embora.
Eu iria almoçar na minha, depois tomar um banho e vestir uma roupa simples, porém bonita.
Fui correndo desta vez e, quando cheguei no portão da minha casa, meu carro estava lá, estacionado e com um brilho que antes não tinha.
Pelo menos eu não teria que andar ou pegar condução para ir até a casa de Matthew.
Abri a porta com a chave que ficava debaixo do tapete e entrei.
A porta se fechou com um estalido.
— Clare, é você? – me perguntou mamãe.
“Não” respondi mentalmente “é a chapeuzinho vermelho, que tava procurando a avó dela e entrou na casa errada”
— Clare? – me chamou novamente.
— Oi, mãe. – respondi sem nenhum entusiasmo.
— Como foi a escola?
Dei de ombros.
— Vai sair hoje? – como ela sabia?
— Vou...
— Então ainda bem que o carro ficou pronto. – ela sorriu esperando um sorriso em resposta, um sorriso que não dei.
Ficamos em silêncio.
— Bem, o almoço está na mesa.
Assenti e a acompanhei para a sala de jantar.
— Ben, venha almoçar. – gritou minha mãe para meu irmão, que não largava o videogame.
Meu pai não estava em casa, como sempre.
Ele almoçava em um restaurante perto do trabalho dele.
Nós três nos sentamos à mesa e comemos em silêncio.
Todos ansiosos para alguma coisa.
Minha mãe para assistir a maldita novela que ela tanto ama.
Bem para voltar jogar aquele videogame idiota.
E eu para ir à casa de Matthew.
Rapidamente comi tudo e fui tomar um banho.
Um longo banho.
Sai com uma nuvem de fumaça, pois a água estava super quente e, fui me arrumar.
Eu estava em dúvida sobre qual roupa usar.
Na pressa acabei escolhendo uma calça jeans preta, uma regata branca e um all star de cano baixo preto.
Peguei meus livros e saí com o meu Lamborghini preto recém concertado.
Peguei a avenida e fui em direção a casa de Matthew.
Eu ia fazer todo o possível para esse dia não ser como um dia como outro qualquer.

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