7. Noite
Nós chegamos à minha casa por volta das oito horas da noite.
As luzes ainda estavam apagadas, sinal de quê nem meus avôs nem minha mãe haviam chegado.
Minha cachorra late ao abrirmos à porta.
Vamos até ela para fazermos um carinho.
Quando voltamos e entramos o telefone toca, me sobressaltando.
Era vovó, me avisando que eles chegariam tarde.
Com um suspiro eu desligo o telefone. Para logo em seguida usá-lo de novo.
Meu avô me deixara pedir comida chinesa. Óbvio que eu ligaria para o Chinese Food e pediria frango xadrez, meu prato predileto.
Esperamos a comida chegar.
Coraline deu a ideia de pormos um filme, Duda e eu aceitamos de bom grado.
— De terror não! – avisei lá da cozinha. Eu não suportaria se visse algo que me desse mais medo.
Meus nervos estavam à flor da pele, como costumam dizer.
Pus a mesa enquanto passava os trailers.
A comida chegou logo em seguida.
Assim que abri, o cheiro me envolveu. Não percebi que estava com tanta fome.
Nós nos servimos da comida e, fomos ver o filme. Uma comédia.
Distraímos-nos com o filme, demos até algumas gargalhadas, nos esquecendo por uns minutos que estávamos sendo perseguidas por algo que desconhecíamos.
Ouvi a porta da cozinha se abrindo e logo pulei.
Quase morri de alívio ao saber que era apenas mamãe.
— Oi! – ela falou para nós, exausta do trabalho.
— Oi! – respondemos em uníssono.
— Mãe, elas vão dormir aqui hoje, tudo bem, né?
— Claro.
Nós sorrimos e ela vai para o banheiro, tomar banho.
O filme acabou deixando um gostinho de quero mais.
Entramos um pouco no msn, queríamos conversar com nossas amigas.
Manuella estava on. Chamamos ela para conversar, sabendo que ela demoraria um pouco para responder, pois seu computador era meio lerdo.
Ela nos assustou nos dizendo que tivera uma visão.
Estranho, ela nunca tinha tido visões antes... Na verdade eu não podia imaginar que alguém pudesse ter visões... Muito menos Manu, minha amiga Manu.
Ela vira que algo muito estranho estava nos rondando.
Coraline, Duda e eu nos entreolhamos e logo dizemos tchau.
Estávamos voltando a nos assustar e, isso era tudo o que menos queríamos.
“Respire fundo”, eu disse a mim mesma. Sempre fui controlada, pelo menos por fora.
— Kathe, não acha melhor chamarmos um demonologista ou coisa assim? – falou Coraline.
— Você tá pirando, né? – eu pergunto calmamente.
— Não, estou falando sério. Como você pode estar tão calma? – ela me perguntou, sem saber que por dentro o meu coração batia forte e rápido.
— Acho que Kathe tem razão! – disse Duda antes que eu pudesse responder a pergunta de Coraline.
— Manas... Um demonologista não vai nos ajudar.
— Como você pode ter tanta certeza?
— Não sei! – eu sussurrei.
Coraline estava pronta para chorar e eu a abracei.
Duda juntou-se a nós.
O relógio emite um barulho, nos assustando. Meu Deus, como ficara tarde! Já era meia-noite. Onde estariam vovó e vovô?
A minha pergunta foi respondida. A porta da cozinha abriu-- se em um rangido.
Eles chegaram.
Rapidamente depois de falar com eles, cada uma de nós toma um banho, escova os dentes e se troca.
Elas tiveram que usar pijamas meus, mas até que caíram bem nelas.
Deitamo-nos pensando que teríamos uma noite de paz, pelo menos.
Não sabíamos que estávamos enganadas.
***
Não consegui pegar no sono rapidamente, mas quando dormi tive um sonho muito esquisito.
No sonho eu me levantava e ia até o meu quintal.
Percebi que não era um sonho, mas sim a realidade. Meu espírito havia saído de meu corpo, pois nele entrou o monstro que estava nos perseguindo.
A coisa estava me levando para o frio do quintal.
Quando lá cheguei eu vi que me deitava no chão.
O demônio que estivera no meu corpo havia saído e, agora eu estava de volta.
Tremendo eu não conseguia me levantar. Foi então que ouvi uma voz, não muito distinta, mas pude ouvir todas as palavras, e estas foram: 31 de outubro. Aguarde-me.
Tremi ainda mais, ainda não conseguia me mover.
Não sei quanto tempo ficara no quintal, tremendo. Mas só sei que foi muito.
Enfim Duda e Coraline vieram me buscar.
Elas estavam desesperadas.
Dei graças a Deus que nem meus avós, nem minha mãe haviam vindo também. Eles estariam dormindo tranquilamente em suas camas, sem nem saber o que estava me acontecendo.
Coraline e Eduarda estavam me levando para meu quarto agora. Ainda podia ver o desespero delas, estava estampado em seus rostos.
— O que aconteceu gêmea? – começou Coraline a me interrogar.
— Eu não sei! Só sei que eu estava vendo meu corpo se levantar e ir para o quintal. O demônio que nos persegue estava dentro dele. Depois eu me deitei no chão frio e, ouvi a voz dele me dizendo: “31 de outubro. Aguarde-me.”
Elas se entreolharam.
— O que foi?
— Bem... Eu ouvi essa voz e, ela dizia a mesma coisa. – falou Duda, seus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu também ouvi.
Sem conseguir mais aguentar o turbilhão de emoções que estava dentro de mim, eu começo a chorar.
Elas me abraçam, chorando também.
Quando as lágrimas se esgotaram, nós nos deitamos novamente. E após muito tempo olhando para o teto, todas conseguiram dormir.
***
Os meses se passaram e vieram as férias.
Após aquela noite não ocorrera mais nada.
Apenas algumas coisas sendo derrubadas, portas sendo abertas e, luzes sendo apagadas do nada. Eu – medrosa como sou – atribuí esses acontecimentos a força da natureza. Talvez fosse só o vento. Meu subconsciente me dizia que não era isso, mas eu estava muito feliz fingindo ser só o vento.
Duda e Coraline fizeram o mesmo, até chagamos a pensar que não haveria mais nada nos perseguindo. Que estávamos livres da maldição.
Como poderíamos imaginar que estava só começando? Como poderíamos imaginar que essa maldição ainda duraria anos?
Nós não podíamos saber. Mas o dia 31 de outubro se aproximava e, junto com ele viriam mais e mais tragédias e mais lágrimas sendo derramadas.
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