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domingo, 28 de novembro de 2010

3. Anjo
Minha mente voava para o ano de 1.880.
O ano em que fui mais infeliz, não o ano em que fui mais feliz em minha vida!
Eu o vi pela primeira vez em uma taberna. Eu tinha que matar um grupo de jovens e ele estava lá para salvá-los.
De início ele não reconheceu que eu era um demônio, mas eu já sabia que ele era um anjo.
— Droga! – eu murmurei e seu olhar voltou-se para mim.
Assim que ele viu meus olhos, agora ele sabia que eu era uma demônia.
Ele ficou rondando os jovens e me olhando, ao mesmo tempo.
E agora, o que eu ia fazer? Senti minha fachada humana saindo do meu controle e tentei me acalmar.
Aquele anjo maldito havia estragado tudo!
Meu rosto estava totalmente vermelho de pura raiva.
Eu esperava o momento em que ele se distraísse, mas esse momento não ocorreu.
Fixei meus olhos nos jovens, que estavam totalmente bêbados. Seriam um alvo fácil, se o anjo não os estivesse protegendo.
Depois de passadas boas, ou pior, depois de passadas ruins quatro horas eu desisti.
Sai, soltando fumaça pelas orelhas, literalmente.
Não espera que o anjo me seguisse.
Virei-me para encará-lo, mas toda a minha raiva virou pó no momento em que nossos olhos se encontraram. Uma estranha paz me atingiu olhando aqueles olhos azuis divinos.
— Espere! – ele estendeu a mão e me disse.
— Me deixe em paz! – eu disse me livrando do poder de seus olhos, mas na verdade já estava em paz no momento em que os meus olhos se encontraram com os dele – Eu não tenho absolutamente nada para falar com você!
— Mas... – eu sabia que ele não tinha resposta, eu estava certa. – Meu nome é Guilherme... Qual é o seu nome? – ele me perguntou.
— Não interessa! – eu respondi bruscamente. Nem deveria estar falando com um anjo.
Ele parou e inspirou. Aproveitei esta deixa para ir embora, mas ele me seguiu.
— Espere! – pediu ele de novo, mas eu o ignorei.
Estava pronta para sumir, quando senti a mão dele em minha cintura me restringindo de partir.
— Me larga! – gritei, tentando me soltar, mas seu braço não se afrouxou nem um milímetro.
— Espere... – disse Guilherme me virando de frente para ele, me obrigando a olhar dentro daqueles malditos olhos azuis.
— É melhor me soltar... Ou não sabe o que sou?
— Você é uma demônia, mas isso não impede que você vire uma anja, que mude de lado! – ele disse, mas parecia estar implorando.
— Não quero mudar coisa nenhuma, seu anjo estúpido! Agora me solta! – eu disse com ódio e me livrei de minha forma humana, mostrando o demônio que era.
Ele me soltou instantaneamente e abriu suas asas. Seus olhos pareciam implorar para que eu fosse com ele, mas depois de ver minha determinação de ficar ele desistiu e saiu voando, desaparecendo no céu escuro.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas não era nada normal.
***
Após alguns minutos, fui cumprir minha missão – eu achava que o anjo pensava que eu não iria fazer nada com os jovens, anjo tolo.
Um alvo fácil, como eu havia dito.
Eles estavam tão bêbados que nem perceberam que eu chegava por trás. Rapidamente quebrei o pescoço de todos eles, e os deixei largados no chão, sem me preocupar de esconder os corpos.
Um dos jovens estava de olhos abertos e, quando olhei para dentro deles, estremeci... Os olhos do garoto pareciam ser iguais aos do anjo.
***
— Lilith? Lilith está me ouvindo? – perguntou Anne, me tirando do transe.
— Sim, eu estou. – respondi.
— Tem certeza que não quer me contar o que esse tal anjo fez para você ficar assim, tão cheia de ódio?
— Absoluta! Eu não quero falar nada!
Eu não queria e eu não podia! Sempre que eu pensava no que ele me fez...
Com certeza ele não sabia o que tinha me feito, senão estaria aqui comigo, mas o que ele tinha me feito me deixara com tanto ódio...
Não deixei meus pensamentos me levar.
Ele iria saber o que tinha me feito... Quando eu o encontrasse!

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